Vão ter que largar o aplicativo e procurar um outro fornecedor. Teor da mensagem enviada através de e-mail no dia 30/06/2022:

“Estamos entrando em contato para informar que, a partir de 31 de janeiro de 2023*, os produtos QuickBooks Online da Intuit não estarão mais disponíveis na Índia. Assim, não estamos mais aceitando novas assinaturas na Índia no momento. Isso se aplica a todas as assinaturas do QuickBooks Online, do QuickBooks Online Accountant, do aplicativo móvel QuickBooks e do QuickBooks Time.

Esta decisão não foi tomada de ânimo leve e reconhecemos o impacto que tem nos nossos clientes. Não podemos mais fornecer e oferecer suporte a produtos QuickBooks que atendem às necessidades de pequenas empresas e profissionais de contabilidade em toda a Índia", disse ainda.

"Como parte da transição, todas as assinaturas pagas existentes serão transferidas para gratuitas antes de 31 de julho de 2022, para permitir que as empresas continuem usando o QuickBooks até 31 de janeiro de 2023* sem cobranças. Os clientes que pagaram uma assinatura anual receberão um reembolso pela parte não utilizada de sua assinatura”.

*Data posteriormente alterado para 30/04/2023.

A decisão da Intuit de abandonar um mercado gigantesco com 63 milhões de microempresas e uma elevada taxa de crescimento, evidentemente levanta algumas questões, inclusive em relação a um possível desfecho semelhante aqui no Brasil.

Economic Times

 

Embora a multinacional norte-americana não tenha esclarecido seus motivos, observadores especializados do mercado indiano de TI não têm dúvidas:

RESULTADOS INSUFICIENTES
A meta de conquistar 2 milhões de usuários nem de longe foi alcançada. As estimativas divulgadas pela mídia indiana oscilam entre 30 a 60 mil assinaturas, o que corresponderia a 1 a 2 porcento do faturamento global do QuickBooks Online. Com um número tão baixo uma estrutura típica de multinacional norte-americana obviamente não pode ser sustentada eternamente.
 
DIFICULDADE DE ADAPTAÇÃO AO MERCADO LOCAL
Ser um global player como a Intuit nem sempre é uma vantagem quando se depara com concorrentes menores, porém exclusivamente focados nas necessidades especificas do mercado local. Sem a árdua tarefa de adaptar códigos fontes e traduzir planos de contas e menus de aplicativos originalmente criados para um público de outro país. Comentários de usuários:
 

“... parece como contas americanas passadas por um corretor ortográfico”. 

“E o layout geral, classificação de gastos e assim por diante, é simplesmente estranho”. 

“A Intuit simplesmente não consegue dar conta à Índia”.

Até ao apagar as luzes a Intuit ainda comete um último deslize: Como na Índia o ano fiscal termina no dia 31 de março, depois fortes pressões nas redes sociais, o prazo de encerramento no próximo ano teve que ser prorrogado do final de janeiro para o final de abril.

A retirada da Intuit da Índia, além de frustrar muitos usuários, pode ter implicações maiores no futuro.

“É IMPROVÁVEL QUE A INTUIT SEJA BEM-VINDA DE VOLTA AO MERCADO, POIS ISSO [A RETIRADA] DEIXARÁ MUITOS CLIENTES DESCONFIADOS NO FUTURO. A QUESTÃO É SE A INTUIT CONSIDERARÁ DECISÕES SEMELHANTES TÃO RAPIDAMENTE EM OUTROS PAÍSES. PODE INTERESSAR A ALGUNS”.

Steve Brooks, Enterprise Times, 'Intuit defers the decision to exit India with QuickBooks'. 05/07/2022.

De fato, considerando que a Intuit tupiniquim, mesmo depois de 7 anos não conseguiu se adaptar à cultura contábil local, pode levar a matriz americana a incluir o Brasil também na lista negra dos países emergentes, porém complicados demais. Alguns problemas aqui até são mais graves:

Na área da tributação a subsidiária brasileira simplesmente jogou a toalha, embora o Simples Nacional seja um imposto muito menos complexo do que o GST (Imposto sobre Bens e Serviços) indiano. Curiosamente a tradicional versão desktop (Windows) do QuickBooks, embora desenvolvida para o mercado norte-americano, consegue apurar qualquer imposto brasileiro automaticamente, inclusive no Lucro Presumido e Lucro Real. Retenções: idem. Já no Online brasileiro, depois de algumas tentativas fracassadas, a regra agora é: Faça você mesmo - através de lançamento contábil.

E enquanto o usuário indiano tinha o conforto de uma folha de pagamento integrada ao QuickBooks, no Brasil é disponibilizada apenas uma planilha eletrônica cuja real utilidade nem “os especialistas” do suporte sabem explicar.

No campo da tradução o desafio evidentemente é maior do que na Índia, onde houve somente uma mudança de “versão” do inglês. Entretanto, neste requisito houve apenas uma evolução de um português hilariante para um português estranho e contabilmente incorreto. Gastos e despesas, por exemplo, continuam sendo amplamente confundidos.

E a concorrência local?

Ela também não falta!